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Juventude atual
Juventude atual

1- Você, com sua experiência, acredita que jovens de hoje, na maioria filhos de uma geração de pais mais liberais, se tornaram mais mimados e receberam uma educação com menos limites?

Esta é uma impressão generalizada, e gostaria de refletir um pouco sobre ela. Acho que os pais da geração "68" sentem uma enorme dívida em relação à felicidade dos filhos. Esta geração, na qual me incluo, acreditou que a felicidade era uma conquista revolucionária. Na época parecia mesmo que era assim. No entanto, quem faturou com esta revolução foi o chamado mercado. Hoje, a felicidade é um "valor agregado" às mercadorias. Confusamente, os pais liberais dos adolescentes e jovens contemporâneos tendem a facilitar ao máximo a vida material dos filhos, e resistem a lhes impor restrições, principalmente em termos de liberdade e dinheiro. Temem que seus filhos fiquem fora de uma grande onda imaginária, uma espécie de fantasia publicitária onipresente, segundo a qual o valor de um jovem se mede pelo seu valor de gozo. Os pais temem que seus filhos os acusem de não ter feito o máximo para incluí-los, não nas condições reais de um eventual sucesso na vida - o qual depende de estudo, esforço e trabalho - mas na turma virtual dos bem sucedidos. A isto se alia um discurso conformista a respeito da falta de perspectivas para as novas gerações. Digo conformista porque, apesar de haver realmente uma crise no mercado de trabalho, nas condições ferozes da competição nos países capitalistas, nas perspectivas de transformação política, etc, os arautos desta crise têm um ponto de vista mais cínico do que crítico, tipo (parafraseando Sérgio Porto): "se não acredito na restauração da Lei, por que não me locupletar desde já?" Os pais têm pena da "falta de futuro" de seus filhos e com isto colaboram para alongar ao máximo sua adolescência, seu período do irresponsabilidade, sua dependência, sua mesada... Na primeira questão você sugeriu que os jovens das classes C e D não seriam tão mimados, mas eu tenho dúvidas. Que os pais mais pobres não possam dar a seus filhos o mesmo conforto e os mesmos signos de sucesso, não significa que eles não alimentem a mesma perspectiva de felicidade para eles, e não se sintam em dívida por não poder obtê-la para os filhos. Agora, é claro que a cada brecha que se abre no mercado de trabalho para os jovens, legiões destes "mimados", ricos e pobres, tentam ingressar na vida adulta. O problema é que se você se imagina como alguém que "merece", como diz a publicidade, distinções especiais, é muito fácil se decepcionar com a condição medíocre de um começo de vida num trabalho qualquer.

2- Você considera que o jovem de hoje tem um perfil mais individualista do que a geração de seus pais?

Já li pesquisas que dizem que sim, que a maioria dos jovens de hoje não têm ideais, que só pensam em diversão e consumo, etc. Pode ser. Mas vamos destrinchar esta idéia. Primeiro: a geração "flower power" também queria se divertir, também queria levar a vida na base do amor livre, música, pouco trabalho e paraísos artificiais. A diferença é que o discurso ideológico que sustentava este projeto estava mais na contramão da moral da época (mas pouco depois foi 100% aproveitado pela industria cultural), e o de hoje já vem prêt-à-porter pela televisão. Segundo: os jovens não são os únicos responsáveis pela ausência de grandes discursos revolucionários que caracteriza o século XXI. Talvez seja até bom que já não se invista tanto em grandes projetos utópicos, porque os do século XX foram meio desastrosos. Por outro lado, vejo grande engajamento de jovens em projetos mais modestos de melhorar a vida coleltiva, grande interesse na preservação do meio ambiente, por exemplo. Os Fóruns Mundiais de que eu participei em Porto Alegre, três anos seguidos, estavam lotados de jovens. Eram minoria em relação à grande massa, mas a esquerda estudantil dos anos 1970, os hippies dos 1960, também eram. Só que naquele tempo, em meio à caretice geral, eles tinham tanta visibilidade que parecia que "todos" os jovens eram como eles. A maioria, se vc pensar bem, era composta de meninos acomodados que queriam emprego, carro, família e, se possível, um dia receber a herança dos pais

 


 

 

Font:(https://www.mariaritakehl.psc.br/conteudo.php?id=164)